Câmeras corporais de PMs revelam como motorista do Porsche foi liberado da cena do crime sem bafômetro: 'Pode ir'

  • 25/04/2024
(Foto: Reprodução)
Vídeos obtidos pela reportagem. Fernando Sastre de Andrade Filho dirigia carro de luxo que bateu no Sandero do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, que morreu no hospital após colisão. Empresário responde em liberdade por homicídio, lesão e fuga do local do acidente. Áudios de câmeras corporais de PMs revelam como motorista do Porsche foi liberado Vídeos de câmeras corporais dos policiais militares que atenderam a ocorrência do acidente com o Porsche que deixou um morto e um ferido, no último dia 31 de março em São Paulo, revelam como o motorista do carro esportivo de luxo, o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, foi liberado pelos agentes da Polícia Militar (PM) da cena do crime sem fazer o teste do bafômetro (ouça acima). O g1 e a TV Globo tiveram acesso em primeira mão a trechos da conversa registrada pelas body cams dos policiais do Batalhão de Trânsito da PM com o empresário, a mãe dele e testemunhas do acidente na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé (saiba mais abaixo). Tanto os áudios quanto às imagens estão com a Justiça. O empresário Fernando Sastre, que matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, durante acidente de trânsito na Avenida Salim Farah Maluf, na Zona Leste de SP. Montagem/g1/Reprodução Histórico de Versões Nos diálogos, é possível notar que, inicialmente, os policiais militares chegaram a impedir que Fernando e a mãe, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, fugissem do local do acidente quando os viram indo embora. Os pararam, pegaram os dados do empresário, mas depois de serem convencidos pela mulher de que ela levaria o filho sozinha ao hospital, liberaram o condutor. Segundo Daniela, Fernando estava ferido: "Seu nariz tá sangrando", diz a mulher para o filho. Ela tinha ido ao local para ver como o empresário estava após ele bater o Porsche a mais de 100 km/h num Sandero. O limite para a via é de 50 km/h. "Pode ir lá", diz no áudio um dos policiais militares ao autorizar Fernando a ir com a mãe para o hospital. PM - "A senhora vai levar ele pra qual hospital?" Daniela - "São Luiz. Pro São Luiz." Mas Daniela não levou o filho para nenhum atendimento médico. Desse modo, o motorista do Porsche foi embora e deixou de fazer exame que poderia confirmar se ele havia tomado bebida alcóolica momentos antes da colisão, que foi gravada por câmeras de segurança (veja vídeo abaixo). Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou nesta semana à imprensa essa foi a falha do atendimento dos PMs na ocorrência: a de não fazer o teste do bafômetro no motorista do Porsche. A Polícia Militar analisou as imagens e o diálogo gravados pelas câmeras dos agentes e comprovou que eles erraram por terem liberado Fernando sem checar se ele havia bebido. Vídeo mostra momento da batida de Porsche em carro de motorista de aplicativo O motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, que dirigia o Sandero, morreu depois num hospital. Marcus Vinicius Machado Rocha, amigo de Fernando, estava no banco do passageiro do carro de luxo e teve ferimentos graves, chegando a fraturar quatro costelas e ter o baço retirado numa cirurgia. A Corregedoria da PM investiga a conduta dos dois agentes por descumprirem o protocolo de atendimento em casos de acidentes com vítimas. A Polícia Civil investiga as causas e eventuais responsabilidades pela morte do motorista de aplicativo e pelos sérios ferimentos no amigo do motorista do Porsche. Carro de luxo chegou a mais de 150 km/h antes de bater do carro de aplicativo em São Paulo Fernando foi indiciado por homicídio por dolo eventual (por ter assumido o risco de matar Ornaldo), lesão corporal (por ter ferido Marcus com gravidade) e fuga do local do acidente (por deixar de fazer o exame que poderia detectar se ele havia tomado bebida alcoólica e dirigido). Ele responde em liberdade. Segundo testemunhas ouvidas pela investigação, Fernando havia bebido antes de bater no carro de Ornaldo. A comanda de um bar mostrou que ele e amigos consumiram bebidas alcoólicas no local. O empresário se apresentou na delegacia acompanhado da mãe e de advogados. Em seu interrogatório negou ter bebido e fugido. Laudo da Polícia Técnico Científica revelou que o Porsche transitava a 156,4 km/h. No momento da colisão, o carro de luxo estava a 114,8 km/h quando atingiu o Sandero. "Eles passaram pela gente", disse uma testemunha nos áudios das câmeras dos PMs que atendiam a ocorrência sobre o Porsche com Fernando e Marcus ter ultrapassado o veículo onde estavam e depois bater no Sandero de Ornaldo. Amigo diz que motorista bebeu antes do acidente Na delegacia que investiga o caso, o 30º Distrito Policial (DP), Tatuapé, algumas testemunhas contaram ainda que viram Fernando com sinais de embriaguez e voz pastosa após o acidente. Mas esses indícios de que ele havia bebido não foram percebidos pelos PMs que atenderam a ocorrência e o liberaram. Se ficasse comprovado que o motorista do Porsche havia bebido, ele teria de ter sido preso em flagrante por dirigir sob efeito de álcool, o que é proibido por lei. "A gente tava saindo da festa. A gente ia ir pra minha casa. Jogar sinuca. Aí, do nada aconteceu um acidente horrível e... Aconteceu isso. Eu não lembro mais de nada", disse Fernando ao ser questionado por um dos policiais militares para dizer como foi a batida. Ele não deu mais detalhes. Mãe tentava ir embora com filho Daniela Cristina de Medeiros Andrade e o filho Fernando Sastre de Andrade Filho na delegacia; ao lado o Porsche destruído após o acidente Reprodução/TV Globo Os mesmos PMs que liberaram Fernando chegaram a impedir antes que ele fugisse. Isso ocorreu quando viram o empresário e a mãe indo embora do local do acidente. Os agentes foram atrás deles e chamaram . "Ô, ô, ô. O senhor era o condutor do carro?", pergunta um dos agentes. A mãe dele havia dito que não precisavam continuar no local: "Já passou tudo pra ele, tá tudo com ele já", disse Daniela, se referindo a um dos policiais militares que teria ouvido seu filho. Apesar disso, mãe e filho foram ouvidos depois pelos agentes, que pegaram os dados pessoais de Fernando. PM: "Conta pra mim o que aconteceu, Fernando?" Fernando: "Eu estava com o Marcus, a gente estava voltando para casa e aí aconteceu um acidente horrível, foi isso". A agente que pegou o depoimento pediu somente que Fernando lesse o documento com suas informações num aparelho eletrônico e o homem foi liberado logo depois. PM - "Lê o que você me disse e ver se é isso mesmo para você assinar." Fernando - "É isso." PM - "Tá. Você vai assinar com o seu dedo aqui, ó". Daniela - "Pode ir agora?" PM - "Pode, pode ir lá." Daniela - "Muito obrigada." PM - "Nada." Quebra de sigilo bancário Montagem - Traseira do Renault Sandero branco ficou destruída após ser atingida pelo Porsche azul Rômulo D'Ávila/TV Globo O Ministério Público (MP) pediu nesta semana à Justiça a quebra do sigilo bancário de Fernando para saber se ele comprou mesmo bebidas alcoólicas em bares antes de provocar o acidente. A Justiça ainda não havia dado uma decisão a respeito do pedido até a última atualização desta reportagem. O inquérito do caso do Porsche ainda não foi concluído. Durante a investigação, o delegado Nelson Alves, que apurava os crimes acima, foi substituído pelo delegado Milton Burguese, que estava no 81º DP, Belém. Nelson foi para o 81º DP e Milton está agora no 30º DP. Apesar de fontes da reportagem informarem que a cúpula da polícia estava insatisfeita com a investigação conduzida por Nelson, a SSP alegou que a troca foi administrativa. Nesta quinta-feira (25) está prevista a reconstituição do acidente. A pedido do Ministério Público, ela será feita por peritos do Instituto de Criminalística (PC) na avenida onde ocorreu a batida no Tatuapé. Será usado um o scanner 3D a laser, terrestre. Além disso, drones vão fazer fotos aéreas e, depois, será feita uma animação para mostrar em detalhes como foi a batida. Fiança de R$ 500 mil Fernando Sastre Jornal Nacional/Reprodução A Polícia Civil já pediu duas vezes a prisão de Fernando à Justiça, que negou todos. Apesar disso, determinou que ele pagasse uma fiança de R$ 500 mil (para garantir futuros pagamentos de pedidos de indenizações à família de Ornaldo e a Marcus), além de suspender a carteira de motorista dele e obrigá-lo a entregar o passaporte na Polícia Federal (PF). O Porsche dirigido pelo empresário custa mais de R$ 1,3 milhão. "Um sentimento de injustiça gigantesco dentro de mim", escreveu em seu Instagram, Luam Silva, filho do motorista por aplicativo Ornaldo, morto no acidente. LEIA MAIS: Câmeras corporais mostram que PMs erraram ao liberar motorista do Porsche sem fazer teste do bafômetro, diz secretaria Delegado é afastado de caso do Porsche após críticas e depois de cobrar que PM entregue imagens de câmeras corporais do acidente Porsche de batida que deixou um morto e um ferido chegou a 156 km/h instantes antes de acidente, diz laudo Vídeo mostra batida de Porsche em Sandero em SP; motorista de aplicativo morreu e condutor do carro de luxo fugiu Motorista de Porsche de mais de R$ 1 milhão bate em Renault, mata condutor e foge após acidente em avenida de SP

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2024/04/25/cameras-corporais-de-pms-revelam-como-motorista-do-porsche-foi-liberado-da-cena-do-crime-sem-bafometro-pode-ir.ghtml


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