‘Canto de agonia’: estudo registra uso de ultrassom por rã da Mata Atlântica na defesa contra predadores

  • 15/04/2024
(Foto: Reprodução)
Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) registraram, pela primeira vez na América do Sul, canto ultrassônico por anfíbios. Vídeo mostra rã-do-folhiço durante comportamento de defesa contra predadores Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) registraram pela primeira vez na América do Sul, o "canto de agonia". O ultrassom emitido pela rã-do-folhiço (Haddadus binotatus), espécie endêmica da Mata Atlântica, auxilia na defesa contra predadores. Segundo o mestrando Ubiratã Ferreira Souza, primeiro autor do trabalho, alguns potenciais predadores dos anfíbios (como morcegos, roedores e pequenos primatas) conseguem emitir e ouvir sons nessa frequência. Uma das hipóteses é que o canto seja direcionado para algum deles. O pesquisador também explica que é possível que a ampla frequência - registrada entre 7 a 44 quilohertz - seja generalista, o que poderia espantar o maior número possível de predadores. A partir dos 20 quilohertz, o som é inaudível para humanos. “A hipótese que acreditamos ser mais provável é de que ela é mais generalista. Pela ampla faixa de frequência que o animal acaba vocalizando, que vai desde o espectro audível do ser humano, mas também acaba atingindo outros que escutam em ultrassom”, diz ele. Haddadus binotattus é uma espécie endêmica da Mata Atlântica Henrique Nogueira Outra hipótese é que o canto seja usado para atrair outro predador, que por sua vez atacaria o animal que estivesse em vias de predar o anfíbio, no caso, a rã-do-folhiço. Durante o canto, segundo Ubiratã, a rã-do-folhiço faz uma série de movimentos típicos de defesa contra predadores, como foi visto pelos biólogos. O animal levanta a parte frontal do corpo e abre a boca jogando a cabeça para trás. Depois, fecha a boca parcialmente, emitindo o canto com parte da frequência audível por nós, de 7 a 20 quilohertz, e parte inaudível, de 20 a 44 quilohertz. Captação do comportamento Além do apoio pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o artigo teve suporte do Projeto Dacnis, durante um dos estudos de campo que proporcionaram a descoberta, realizado em Ubatuba. "Nós já tínhamos alguns indícios que a espécie pudesse cantar em um ultrassom, principalmente por causa de um trabalho de doutorado do Felipe Toledo, que foi publicado em 2009", diz Ubiratã. Luís Felipe Toledo é orientador do estudo e professor do Instituto de Biologia da Unicamp. O animal do vídeo foi localizado durante uma coleta de autores do artigo do Projeto Dacnis. "Quando estavam coletando lá na região de Ubatuba, viram o animal pulando na serrapilheira, que é essa camada de vegetação que fica acima do solo. Então fizeram os estímulos simulando predadores e acabaram por captar o comportamento de defesa e o canto ultrassônico", conta o mestrando. Indícios de ultrassom por outra espécie A pesquisadora da Unicamp Mariana Retuci Pontes, coautora do estudo, observou comportamento semelhante em outra espécie, possivelmente uma rãzinha-da-floresta (Ischnocnema henselii), no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar) em 2023. Enquanto tentava fazer uma foto do anfíbio, o animal realizou o mesmo movimento corporal de defesa enquanto emitia um som parecido com o da rã-do-folhiço. Ambas as espécies não estão ameaçadas de extinção. Rãzinha-da-floresta (Ischnocnema henselii) pode emitir som semelhante ao da rã-do-folhiço Micael De Bona / iNaturalist Segundo Mariana, cerca de um metro distante da rã, estava uma jararaca (Bothrops jararaca), o que reforça a evidência de que o comportamento é realizado diante de predadores. No entanto, não foi possível constatar a presença de ultrassom no ruído da espécie. Luís Felipe Toledo, não descarta a possibilidade da rãzinha-da-floresta emitir também o canto de agonia, já que as espécies vivem em ambientes parecidos (camada de folhas sobre o solo) e têm predadores similares. Os outros registros de uso de ultrassom por anfíbios foram feitos em três espécies da Ásia. No entanto, a frequência é usada para comunicação entre indivíduos da mesma espécie. Em mamíferos, o ultrassom é comum entre baleias, morcegos, roedores e pequenos primatas. O uso para defesa contra predadores era algo inédito até então entre anfíbios. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2024/04/15/canto-de-agonia-estudo-registra-uso-de-ultrassom-por-ra-da-mata-atlantica-na-defesa-contra-predadores.ghtml


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